Com uma leva de cantoras acerebradas (vide a namorada do Camelo, me recuso a proferir o nome dela aqui) ou completamente sem talento, é tão bom quando a gente se surpreende (positivamente) com alguma revelação da música nacional, né?!

“Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé”

Quem lê os versos acima pode não acreditar ao ver que quem os compôs é uma paulistana de 22 anos de visual andrógino e uma voz sensacional. Tudo isso é pouco para descrever o talento musical de Maria Gadú (nome de criação dela e que carrega um acento que contraria as regras ortográficas). Mas ninguém quer saber de entender, melhor prestar atenção e deixar acontecer. Só vendo mesmo. Aconchegue-se onde estiver, tire outras preocupações da cabeça e dê o PLAY no vídeo abaixo. Você não vai se arrepender. Se quiser, escute alguns trechos de olhos fechados e sinta a magia contida na voz dessa menina.

Agora me diga se estes 3 minutos e 57 segundos não mudaram a sua vida. A canção foi composta em homenagem à avó da cantora, a Dona Cila do título, a quem, aliás, todo seu álbum de estreia é dedicado.

Ao vivo suas apresentações devem ser bem mais emocionantes. Com seu visual meio punk meio rock’n’roll, ela sobe ao palco e derruba todos os estereótipos ao abrir a boca e mostrar a suavidade com seu timbre levemente rouco e uma emissão potente. Um contraste realmente sedutor. Em cena, ela faz o gênero retraído, com a postura um pouco curvada, canta um repertório quase todo próprio. A seleção percorre samba, pop, rock, blues, com toques de regionalismo. Entre os momentos mais empolgantes, estão as versões de “A história de Lily Braun” (Edu Lobo e Chico Buarque) e “Baba baby” (sim, o hit de Kelly Key!), só no violão.

A cantora ganhou a chance de exposição nacional porque sua voz despertou a atenção do diretor Jayme Monjardim. Ela fez uma participação na minissérie Maysa – encarnou uma cantora que trabalhava em uma boate – , emplacou músicas em novelas globais Viver a Vida e Cama de Gato, abriu o show da inglesa Joss Stone e foi uma das apostas mais altas da gravadora Som Livre para 2009. É dela também o tema de abertura da minissérie Cinquentinha.

Mas quem pensa que todo o sucesso da moça veio de graça, está muito enganado. A música chegou à vida da cantora ainda na infância, na escola. Aos 4 anos ela não titubeou quando viu um músico, em um shopping, largar o piano e descansar para o intervalo. Sentou-se no banquinho como se tivesse chegado sua vez e tocou um trecho de Chopin. Estupefata, a platéia da praça de alimentação perguntou a ela o que era aquilo. Maria respondeu: “a música do gás”. Aos 7 anos, já gravava, em fita cassete, improvisos musicais e chamava a prima para a fazer a segunda voz nas canções que queria gravar. A outra criança não entendia o que fazer e seguia a voz de Maria, que chorava de raiva, dizendo: “Não me imite, canta diferente!”. Com 10 anos, na paradisíaca Ilha Grande compôs Shimbalaiê, MPB de levada afro e melodia contagiosa que virou uma espécie de amuleto de Maria. “Eu odiei essa música por muito tempo, talvez por ter sido a primeira. Achava infantil. De uns tempos para cá, fizemos as pazes” – diz Maria. Depois vieram os palcos de bares, nos quais revezava com outros artistas. Chegou a formar o grupo Os Varandistas, com colegas que tocavam com ela no bar Capim Limão, na Barra. “Comecei a tocar em bar aos 13 anos. O cara que tocava depois de mim tinha 45”, lembra ela. “Eu ficava olhando, prestando atenção, para saber como as coisas funcionam. Prestava atenção no músico, na reação da plateia, em tudo. Aprendi ali.”

A cantora não é muito ambiciosa e vai tomando seu espaço aos poucos. Mas, com certeza, daqui a pouco já estará consagrada como um dos grandes nomes da nossa música. Como diz no verso de uma de suas músicas: “Quero um pouco mais / Não tudo / Pra gente não perder a graça no escuro / No fundo / Pode ser até pouquinho / Sendo só pra mim sim”. Com todo este talento, este “pouquinho” será uma grande fatia. Aguarde e confie!

Agora, deixo vocês com a minha canção preferida dela até o momento. E como me faz lembrar dele, dedico ao meu namorado muito amado e meu companheiro por toda a vida, viu? Beijos, Ti!

Ah, mas não poderia encerrar sem postar aqui o momento musical mais inusitado a meu ver. O sucesso de Kelly Key na voz de Maria Gadú. Simplesmente irreconhecível!

E, para encerrar com chave de ouro, os links de hoje.

CD: “Maria Gadú” (Maria Gadú) – Um bom começo
Os melhores sons de uma década de nove anos
2009 em Filmes
Melhores e piores filmes da década de zerenta (2000) [EM INGLÊS]
Férias literárias
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Sabrina NunesBlogcantoras,maria gadú,música,revelação musical
Com uma leva de cantoras acerebradas (vide a namorada do Camelo, me recuso a proferir o nome dela aqui) ou completamente sem talento, é tão bom quando a gente se surpreende (positivamente) com alguma revelação da música nacional, né?! 'Se queres partir ir embora Me olha da onde estiver Que eu vou...