O dia está raiando. “Já é hora de levantar”, penso eu. Sem nem abrir os olhos, me encaminho para o banheiro, acendo a luz, lavo o rosto e, ao me olhar no espelho, me deparo com uma cara que não é a minha. Assustada, grito e ouço alguém correndo, a porta do banheiro se abre e eu visualizo a figura de um homem. Ele não me é estranho. Hummm… até que é bem bonito! Ah, acho que lembro o nome dele. É aquele jogador de futebol… o David Beckham! Oh, meu Deus! Não posso acreditar! Consigo ouvir a voz dele dizendo, ao longe, “Honey, what’s up?”, mas minha cabeça já está girando, acho que vou desmaiar…

Horas depois acordo, minha cabeça dói um pouco. Olho ao redor e estou em um quarto espaçoso, tudo tão limpo e branquinho que não dá nem vontade de sair mais dali. Os lençóis são macios, parecidos com aqueles que a Dona Luiza usava. Nossa, quantas vezes quis me deitar em lençóis assim, mas nunca me atrevi, é claro. Afinal, sempre fui reconhecida por ser uma empregada muito honesta.

Não consigo entender como fui parar ali. A única coisa que consigo imaginar é que… eu só posso ter morrido e nascido de novo! Mas como assim? Ninguém me explicou nada. Nada de anjo, São Pedro… E eu não vi, nem de longe, nada parecido com Deus. Foi como dormir doméstica e acordar milionária. E ainda por cima casada com um homem daqueles. Bom, quem disse que não tinha visto nada parecido com Deus?

Por falar nele, ele está entrando no quarto agora, traz uma bandeja. Ele fala em uma língua completamente diferente, mas incrivelmente eu consigo entender tudo. Aliás, eu também respondo tudo nesta mesma língua, é como se eu sempre tivesse falado assim.

– Oi, querida! Como está? Chamei o médico e ele disse que você teve uma pequena queda de pressão, mas que você vai ficar bem.

– Queda de pressão, mas isso é fresc… Er, quero dizer, é claro.

– Trouxe seu café da manhã pra você comer na cama hoje. Romeo e Brook já foram para a escola. E Cruz ainda está dormindo.

– Romeo? Brook? Cruz? Quem são esses?

– Nossos filhos, Vicky! Não está se lembrando? Nossa, parece que foi mais grave do que eu imaginei…

– Ah, sim, é claro! Aquilo não foi nada, meu amor. Acho que estou assim porque estou com um pouco de fome. O que você tem aí pra eu comer?

– Ah, aqui está o seu café da manhã: meio biscoito de água e sal. Achei que você não ia querer mais do que isso. Afinal, ontem você deu uma extrapoladinha no jantar, né?! Comeu DUAS folhas de alface.

– Meio biscoito de água e sal? Isso é um absurdo!

Ele me olha de forma estranha e eu fico sem jeito.

– Está certo, amor. Acho que exagerei mesmo no jantar. Aliás, nem vou querer este biscoito que trouxe aí, não. Preciso manter a forma.

Ele me olha com olhos de ternura, beija minha testa e me diz: “Esta é a mulherzinha que eu conheço”.

Logo depois, sai do quarto e eu me levanto. Estou usando uma camisola branca muito bonita, comprida. Muito parecida com uma que a Dona Luiza disse ter usado na noite de núpcias dela, mas o tecido é muito mais macio e toca minha pele de forma que eu nunca senti nada igual antes.

Me dirijo para o banheiro e presto atenção em cada detalhe. Só o banheiro deve ter o dobro do tamanho do quarto-e-sala onde eu morava antes. E, com certeza, é BEM maior que o da Dona Luiza também. Ai, a Dona Luiza… Tão bonita, tão rica, tão famosa… Eu morria de inveja daquela mulher. Agora olhem para mim: eu sou Victoria Beckham. Quem poderia imaginar?

Hummm… Mas, espere aí! Essa pia está meio sujinha… O que é aquilo ali no ralo do banheiro? São cabelos? Eca, que nojo! Um banheiro tão bonito desses com uma arrumação tão porca… Não é possível! Preciso trocar de roupa e dar um jeito nisso já!

Abro a porta do closet e ele tem o tamanho de uma loja de shopping. Das grandes. Minha nossa, onde eu vou arrumar uma roupa aqui? Uma roupa simples, diga-se de passagem. Porque aqui tem tanta roupa cara que está tudo separado por marca. Ali eu vejo Dior, mais ali tem Chanel, aqui do outro lado Prada… Meu Deus, acho que vou passar o dia inteiro aqui dentro e não vou conseguir encontrar uma roupa mais simplezinha. Hum, tem uma gaveta aqui sem nome nenhum escrito nela. O que será que tem dentro? Abro e me deparo com uns shortinhos e tops. Tá certo que está tudo bem novinho (algumas coisas até com etiqueta), mas com certeza é o que vou encontrar de mais simples aqui dentro. Saco logo um short e uma blusinha de manga meio comprida. Afinal, não tenho coragem de sair por aí assim toda descoberta. Bom, agora só falta um chinelo. Acho que não vou encontrar nada parecido por aqui, então nem vou procurar. Pego logo um par de sapatos, o primeiro que vejo, e calço. Pronto, agora é só procurar o material para dar uma geral neste banheiro.

Desço as enormes escadas e ouço um barulho de TV. Sigo o som e vejo meu marido sentado assistindo televisão, a tela deve ter bem umas duzentas polegadas, de tão grande. Engraçado é pensar que ele é meu marido, afinal, meu coração dispara toda vez que olho para ele.

– Há quantos anos somos casados mesmo?, pergunto.

Ele me olha assustado, acho que estranhando minhas roupas, e responde:

– Dez, querida. E eu ainda te amo como no primeiro dia. Senta aqui, vamos ver um pouco de TV e relaxar.

Me acomodo ao seu lado e ele começa a trocar de canais. Em uma dessas trocas, visualizo um rosto conhecido. Peço para ele voltar o canal e ouço um som familiar: é samba! E lá está a Dona Luiza, sambando e sorrindo. Posso ler na legenda: Luiza Brunet, uma das musas do Carnaval brasileiro. Esboço um meio sorriso e digo que ele pode trocar de canal se quiser. Ele troca e ficamos em silêncio, aconchegados, assistindo aos Jogos de Inverno de Vancouver.

Bem melhor assim, onde é mesmo que eu estava com a cabeça?

Isso não ia dar certo. Ainda mais sem nada no estômago, como estou até agora. Sinto minha cabeça meio pesada, acho que lá vem mais um desmaio…

Tema sugerido pelo Blorkutando.

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O dia está raiando. 'Já é hora de levantar', penso eu. Sem nem abrir os olhos, me encaminho para o banheiro, acendo a luz, lavo o rosto e, ao me olhar no espelho, me deparo com uma cara que não é a minha. Assustada, grito e ouço alguém correndo,...